sábado, 19 de dezembro de 2015

MEG GUIMARÃES | Em silêncio


Estive nesses três dias em contato com a especial linguagem deste livro dos poetas Floriano Martins e Viviane de Santana Paulo. Ele mora no Brasil e Viviane na Alemanha: O título - de uma beleza sutilíssima: EM SILÊNCIO. Um livro de poemas não se lê em tão pouco tempo, ele nos exige, nos arrebata (ou não) seduz, mostra-se aderente à nossa imaginação, e nem estou falando do desafio de interpretá-lo. Só quero dizer duas coisas enquanto estou em fase de lutar com as aderências de gosto e a curiosidade da filiação, da criação, digamos. De uma coisa tenho certeza, um livro tem que nos seduzir e o leitor tem que - de um certo modo, descansar do esforço ou da ilusão de tê-lo apreendido. Exatamente como este.
O que eu quero, logo de início - e isso perdura desde que comecei a VER as palavras, passando em seguida para o reajuste da emoção, ou do desafio - é reconhecer o que porventura conhecesse, ou, no caso, ser testemunha das especificidades linguísticas. Terei talento para isso? Sinceramente, não sei. Mas sei e sabemos todos, que a Poesia é sempre uma aposta da palavra, o transe em que elas podem nos deixar.  Nesse livro há um esgarçamento dos significados, a inventividade, as impressões esfumadas, muitas das vezes. Enfim, as palavras criadas se submetem à poetização! Os matizes, por exemplo de ABISMANTO - palavra e expressão que sugere a queda, mas também o encantamento. E, mais que tudo, a matéria prima do Poeta e do FILÓSOFO: a saber, o ESPANTO!
Eu estou assim, mergulhada na evanescência, no cromatismo das palavras desse dois feiticeiros.
Além de eu dizer: muito obrigada, nessa escrita que já se alonga, eu gostaria que todos pudessem experimentá-los.

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FLORIANO MARTINS. O poeta, o tradutor, ensaísta, editor e organizador (daquele belíssimo livro de Antonio Barahona, por exemplo), e sim, sim, um MILITANTE do fazer poético - é o Diretor (e Curador) da Agulha Revista de Cultura, que ninguém pode dizer que não conhece ou que não deve nada a ela. Conheça aqui: http://arcagulharevistadecultura.blogspot.com.br/.

VIVIANE DE SANTANA PAULO. Também ensaísta, além de poeta, reside na Alemanha, como já disse anteriormente.

Aos dois, um agradecimento sincero, e obrigada pelo deslumbramento.


__________ 
MARTINS, Floriano & PAULO, Viviane de Santana: Em Silêncio. Fortaleza: ARC Edições, 2014.
Visite a nossa loja: http://abraxasloja.blogspot.com.br/2015/04/em-silencio.html.






terça-feira, 27 de outubro de 2015

OMAR CASTILLO | Floriano Martins y Agulha Revista de Cultura


Floriano Martins es ante todo un poeta que se atreve a vivir su noción de realidad. Noción con la cual se comporta en el mundo. Su obra poética nos abre y dona su sentimiento vital hacia la realidad, su instinto para descifrar la luz y lo oscuro que la generan. Las imágenes que salen de sus metáforas, en su crear, se adentran por los resquicios más arduos del continuo humano, por las oquedades de su memoria. Con ellas escarba lo abrupto, lo sutil, y lo casi estéril de esa memoria donde se oculta el misterio. En sus poemas, su estro amoroso penetrando su escritura, los cuerpos y los signos que esta toca, es una de las características de su ver y crear, una muestra son estos versos de su poema “A quien sepa el nombre de ella”: “Ocúpame con tus senos y su álgebra frenética, / con la brevedad del abismo que cultivas en la mirada”. Su obra es enigma y revelación celebrándose en la danza que surge entre las ascuas del sueño y los delirios de la vigilia, danza que le permite al poeta aprehender las analogías, inclusive las más obstinadas y opuestas, donde yace el germen de la vida. El fuego de la otredad. La raíz en la semilla del tiempo.  

Con su obra poética, con sus traducciones de poetas del español al portugués, con sus ensayos sobre poesía, con las varias antologías preparadas por él, por su generosidad, Floriano Martins, desde su natal Fortaleza, Brasil, es un referente del suceder creativo en la poesía Iberoamericana. Un referente cuyo faro nos permite acceder a su obra y, también, encontrarnos con mucha de la poesía que se ha escrito y se escribe en español y en portugués.

Floriano Martins es de una amplísima actividad, no se imagina uno como hace para que el tiempo cotidiano le permita realizar todo lo que hace. Además de las actividades ya nombradas, tendría que agregar las dedicadas a sus intervenciones plásticas, a su labor fotográfica, a las tantas maneras como él nos participa su universo vivencial, creador. De su vasta aventura editorial es imprescindible la realizada desde 1999 a través de Agulha Revista de Cultura, cuyo número del mes de octubre de 2015, está dedicado a la admirable obra de la pintora Susana Wald.










segunda-feira, 6 de julho de 2015

CARLA SCHNEIDER | A arte de fisgar: collages de Floriano Martins




O fazer artístico que envolve deslocar imagens de seu contexto original para um novo, mudando seu significado, chama-se collage. O termo collage refere-se a este quebra-cabeça de imagens ora justapostas, sobrepostas, isoladas, resultando numa atração de tal força que elas acabam se grudando mesmo que não haja cola. A trama de significados, neste caso, funciona como cola. Este jogo de analogia entre imagens provém de longa data, de várias manifestações artísticas e caseiras, mas é no Cubismo, no Dadaísmo e principalmente no Surrealismo, que se encontra em maior extensão. Produzir collage muito se assemelha a produzir sonhos. Ambos trabalham com fragmentos, interrupções, cortes, deslocamentos, elementos desconexos, alegóricos, simbólicos. Justamente por deter estas características, a arte surrealista acabou por ampliar o termo collage. Desconfio, apesar de não ser poeta, que há um grande parentesco entre fazer collage e fazer poesia.
Floriano Martins se diverte, leva a sério esta brincadeira de fazer collage a ponto de nos chamar para um passeio por suas trilhas. Tudo começa no primeiro encontro, que pode ser a primeira vista, ou não, mas acredito que o encontro acontece quando você para, olha, observa, vê e conclui que estas collages deixam seus olhos irrequietos, intrigados, não se dando por satisfeitos. Tem alguma coisa de estranho por aqui, poderiam eles dizer. Deixe-me ver. E assim, o olhar vai se aprofundando, mergulhando na collage e, pronto, fomos fisgados. É isso mesmo o que acontece. Estas imagens elaboradas por Floriano Martins precisam ser completadas por nossos olhos, e para isso, nos exigem mais do que o olhar. Necessitamos ver, ver além do óbvio. Deste convite instigante, desafiador, resulta um fascinante quebra-cabeça que através da junção de fragmentos, desencadeia um novo simbolismo: decifra-me ou te devoro.
Há algum tempo acompanho as produções artísticas de Floriano Martins, quer seja na poesia, nos ensaios ou, mais profundamente, nas collages. Posso dizer que a grande maioria delas trazem imagens de livros, escrituras. Nada mais coerente e sincero, se consideramos a veia poética deste artista, e o fato dele confirmar que a quase totalidade de seus trabalhos com a collage se dá em função de sua poesia, do diálogo com ela, mesmo que se trate de capa de livro de ensaios ou de outros poetas.
Nesta série em especial, Rasuramore, vejo que os livros incorporam uma aura que, por sua vez, cria um ambiente sacro. Percebo seres centrais que evocam presença religiosa, humana e mitológica. O todo emana: escritos sagrados.
Em Rasuramore I encontra-se uma figura central que nos conduz à religiosidade, devido ao seu manto, à postura corporal, ajoelhada e à dinâmica do papel que voa evidenciando uma atmosfera suave. Acredito que para Floriano o ato de escrever seja mesmo uma religião, assim como o encontro no poema-livro Sábias areias, que tem todo um ritmo de leitura semelhante às rezas.
Rasuramore II nos traz um homem posicionado de tal maneira que mais parece o próprio habitante do livro ao qual está sobreposto, o que por si já faz uma analogia direta às mãos que, a meu ver, também são partes sacras do corpo humano. Olhando mais profundamente para a figura "homem-livro-mãos", vejo que entre estes elementos há uma dinâmica redundante, quase que circular, resultando num todo sem fim. Sendo assim, o olho dirige-se primeiramente para a cabeça do homem, que segura uma haste, que se junta à mão esquerda, que segura o livro, que segura o homem, que carrega a haste, que se junta à mão esquerda etc. Ao fundo, mais no canto superior direito, há uma representação que se assemelha a uma montanha, fazendo com que a figura "homem-livro-mãos" transporte-se para o primeiro plano da collage, em uma situação espacial que parece flutuar. Esta montanha ao fundo pode significar pilha, montanha de livros que nos dá margem para saltarmos à escada de livros em Rasuramore III. Esta escada, por sua vez, funciona como caminho certo, guiando-nos a caminho da terceira collage.
Aqui, o elemento central é um livro totalmente aberto, exposto, sendo segurado por uma mitológica figura feminina, posicionada sobre os livros que lhe servem de pedestal. Como é interessante perceber o olho passeando por esta collage! Vejo primeiramente a escada de livros que convida para o passeio. Mais adiante encontro as vestes da Vênus, logo após seu corpo, seu rosto a contemplar o livro que segura. Sim, cheguei ao livro, elemento central, aberto de tal maneira que nos invade de curiosidade, convidando-nos à leitura. Aqui podemos ficar o tempo que quisermos, deleitando-nos com as mais variadas histórias. Caso não nos percamos dentro do livro conseguiremos prosseguir o passeio seguindo pelo manto da Vênus, que se esparrama pela escada de livros, e parece nos dizer: "a saída é por aqui".
Partindo da observação de como Floriano Martins dispôs as figuras centrais na série Rasuramore, sendo elas respectivamente religiosa, humana e mitológica, é possível concluir que há evidências de que os livros sejam a morada delas. É como se, caso eu quisesse conhecer melhor uma destas figuras, com certeza as encontraria nos livros.
Acredito que Floriano Martins tem suas collages como iscas, que acabam por nos fisgar, levando-nos para o prato principal deste artista, ou seja, sua poesia, seus poemas. A ideia que tenho é que acabamos por ser jogados numa viagem insólita, onírica, artimanha típica de quem é poeta de vertente surrealista.



[Publicação original na Agulha Revista de Cultura # 6, agosto de 2000]



domingo, 28 de junho de 2015

LORENZO FALCÃO | Quase 600 páginas de "proesias"



“Eu tenho vivido sob o salvo conduto do acaso”. É a frase que fecha a entrevista de Floriano Martins na entrevista a Márcio Simões, e que está nas últimas páginas do livro “A vida inesperada” (Arc Edições), lançado recentemente. Reúne a obra poética completa de Floriano, abarcando sua produção em verso de 1991 a 2015. 
O livro é um tijolo, com suas quase 600 páginas. “São poemas escritos durante os últimos 24 anos, 20% publicados no Brasil, 40% em países de língua espanhola e o restante inédito. Mas foi tudo remontado, reordenado”, explicou-me Floriano, em seu último mail, respondendo indagações finais que eu precisava para escrever esta matéria. 
Ensaísta, tradutor, poeta, editor de veículos literários e aventureiro na música e nas artes plásticas, “seo” Flô, como gosto de chamá-lo, é um militante feroz das letras. E o que temos em “A vida inesperada” é algo valioso, pois dá vazão à sua obra poética completa, onde predomina a inspiração e a estética surrealista. 
“Vejo o convulsivo na poesia de Floriano Martins dentro daquilo que no Surrealismo se define como belo, vejo o encontro de elementos, sensações e temas, no ponto em que deixam de ser opostos”. É o que está na contracapa da obra, assinado por Susana Wald. 
É curioso observarmos a frase inicial deste texto, para contrapô-la, com parte dos escritos de Floriano, como suas entrevistas e ensaios que jogam luz à produção literária de inúmeros poetas e escritores, notadamente, aqueles com algum vínculo ou aproximação ao surrealismo e/ou outras vanguardas das letras universais. 
Entender e saber expressar-se em torno desses escritos que não são muito acessíveis ao leitor mediano é uma tarefa importante. E usar da razão e do seu conhecimento para esclarecer as coisas, é o que Floriano também tem feito, além da sua produção poética. É que sendo o Surrealismo um movimento artístico e literário, concebido com a intenção de enfatizar a força do inconsciente na atividade criativa, que estaria sucumbindo pelo racionalismo, assim sendo, ligada ao “acaso”; isso jamais impediu que o autor da poesia – ou prosa poética – de “A vida inesperada”, se permitisse a destrinchar os motivos e inspirações brotados da inconsciência, nas letras de inúmeros autores ligados, de alguma forma, ao Surrealismo. 
Daí que temos dois Florianos distintos. Um que é generoso e repassa sua informação e seus conhecimentos sobre poesia, buscando a clareza como objetivo; e outro, o criador, que escreve sua poesia libertária segundo dita a voz que vem de dentro dele próprio, e sem fazer concessões ao leitor, porque o compromisso maior do artista deve ser sempre com ele mesmo. 
“A poesia de Floriano Martins é o lugar quase lascivo de uma ambiguidade. Desfrutar dessa ambiguidade é um privilégio que, em definitivo, não é para todo mundo”, escreveu em “A vida inesperada”, Renata Sodré Costa Leite. 
O Tyrannus recomenda com gosto a obra que chega. Especialmente para os iniciados na arte da escrita, ou para aqueles que não temem o novo, o diferente. 
Os interessados no livro podem descobrir como adquiri-lo através do link abaixo... 

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[Originalmente publicado em http://www.tyrannusmelancholicus.com.br/noticias/5998/quase-600-paginas-de-proesias]



domingo, 21 de junho de 2015

JORGE PIEIRO | Intromissão numa vida inesperada



Peço permissão, a princípio, para ler o poema 35 de Lembrança de homens que não existiam:

Agora abrimos a escada, para que possamos ir e vir.
Objetos e nomes saltam em todas as direções.
Um livro rasteja por entre pernas alongadas de móveis incertos.
Os adjetivos semeiam sua tempestade de assombros.
Vozes não identificadas ensaiam um happening que se reescreve indefinidamente.
Muitos de nós nos encontramos em dois tempos no mesmo sítio.
O livro-serpente vai deixando seus ovos por onde passa.
São pequenos símbolos que ao romperem a casca se convertem em dragões.
Os esconderijos são anfíbios e confundem todas as espécies.
Aos poucos descobrimos que respiramos o ar que produzimos.
A terra já nos extinguiu e ainda não demos por conta.
As escadas cambaleiam, não sabem a quem recorrer: aos que entram, aos que saem.
Eu perdi o meu nome em um desses conflitos.
E agora só me resta esperar que saibas retornar ao ponto em que nos surpreendemos um com o outro.

A vida inesperada, de Floriano Martins é mais do que um acaso. É um acontecimento eternizado de uma falsa instabilidade. Não, não pensem que esta pedra, na capa do livro, mantém equilíbrio sobre o tronco da árvore, apenas por ser uma foto. E foto é instantâneo, sem momento seguinte aparente. Inesperadamente…
Por aqui jorram 24 anos de uma poética tensa, de abismos, abissal. É bom lembrar que aos abismos não se permitem desistências se neles entramos. A não ser que a finalidade não seja o Fim sem resistências.
A poética de Floriano Martins carrega um celeiro de fantasmas (ou seria fantasias do que respiramos?). Os três primeiros momentos da obra, Cinzas do sol, Sábias areias e Tumultúmulos, já me prestaram dias e me fizeram perder o ar, lá se vão 20 anos… Foi quando escrevi um ensaio intitulado Galeria de Murmúrios, e ali dissera que "o herói redime-se no poeta e mártir" e que aquele poeta, já maduro, mais responsabilidade teria com a sua obra futura.
Foram palavras quase por dizer, pois, realmente a poética de Floriano já se consolidara naquele tempo. Ei-lo, pois, perpetuando sempre de modo diverso o seu desígnio: "o inferno todo passa por aqui e se lastima do que vê". Mas também "o inferno é uma casa repleta de hesitações".
Floriano apenas desvenda, feito este perigoso poeta, como assim afirma Renata Sodré Costa Leite na quarta capa da obra. Perigoso poeta. Ele desvenda a vida como a Alma em chamas, título de outro capítulo-obra.
Enfim, neste abismo que se nos apresenta, poderemos aprender a voar e, quem sabe, nos depararmos com outra vida inesperada!
Obrigado!



[Sabores Orgânicos,  noite de 17 de junho de 2015. Texto de apresentação do livro A vida inesperada.]


segunda-feira, 15 de junho de 2015

MÓNICA MORALES ROCHA | Overnight Medley, poemas que saben a jazz

 


En 1959, Bill Evans escribió, en las liner notes de Kind of blue, sobre los retos de la improvisación grupal. Quizá por encima de las dificultades técnicas de la creación colectiva espontánea, Evans puntualizaba la necesidad humana y social de «simpatía» entre los participantes, para lograr un resultado comúnPara el pianista de Nueva Jersey, esa dificultad quedó resuelta bellamente [¡y de qué manera!] en las sesiones del 2 de marzo y 22 de abril de aquel afortunado año para el jazz.
En Overnight Medley (ARC Edições, 2014), los poetas Floriano Martins (Brasil, 1957) y Manuel Iris (México, 1983), de alguna manera sobre el mismo planteamiento de Evans, presentan a lo largo de sus páginas:
Un libro sobre jazz que es el mismo jazz. La improvisación pero también la fusión. Algo imposible sin la amistad, la sinceridad, el sentido absoluto de donación, de entrega. (p. 223).
Overnight Medley es un poemario trilingüe (español, portugués e inglés) dividido en cuatro partes: Footprints, a cargo de Iris, entre otros poemas recupera las semillas de este proyecto a cuatro manos; poemas que son, también, de los primeros del escritor mexicano, nacidos como una manera de entender la música y dan “testimonio de una reacción emotiva a un estímulo también emocional.” Iris se hace de una serie de textos que visitan a Ellington, Mingus, Coltrane, Monk, Gillespie y más. En diez poemas regala postales diversas, riqueza de voces, personajes, situaciones. Finalmente, su mirada –curiosa– no abandona el erotismo sutil pero contundente y bien logrado (sabroso, pues).  Un fragmento de mi favorito, “Round midnight”:

Thelonius Monk ha atado los extremos de la media noche
para iniciar la variación de los andamios
que se alargan de tu hablar
a tu gemir de orgasmo                 al primitivo
tiempo de los otros                       los pre-humanos
que se aman contemplando el fuego. (pp. 69-70).

Giant Steps, capítulo de Martins, deja cuenta del “registro natural de [sus] preferencias musicales”, e incluye a músicos como Ayler, Cannonball Adderley, hasta Sun Ra; pasando por selecciones menos «ortodoxas», como Pascoal, Piazzolla y Zappa. Siendo este libro mi primera lectura del brasileño, confieso que casi logra engañarme con el orden alfabético, por nombre de pila de los músicos, en el índice de Giant Steps. En palabras de Iris, independientemente de su edad, Martins es “un poeta joven e irreverente” que juega (y disfruta como niño) con las palabras, sin perder un gramo en la maestría de su oficio poético. Me provocó de inmediato el deseo mortal de aprender portugués para leerle en su lengua materna, que –aun sin entender del todo– al pronunciar los poemas, suenan riquísimos. Acá un fragmento de su texto “Cannonball Adderley”:

Lo que amo es una alegoría inquieta      un pronombre
desprendido del lenguaje
lo que amo es una cuenta de risas y no exige nada de mí
lo que amo por suerte no sé donde se encuentra
libro que comienza en el epílogo
a salvo de sí mismo. (p. 112).

En Mi favorite things,  Martins e Iris le apuestan a la técnica de la escritura automática, propuesta de Bretón y los surrealistas, como equivalente a la improvisación jazzística. Y en una serie de poemas que surgen de temas de jazz, como “So what”, “Meditation for Moses”, “Lost” y “The procastinator”; construyen, al alimón, imágenes que deleitan lo mismo que estremecen. De “Memories of you”, una probadita:

y eres eso: la memoria de una mano
acariciando el lomo                        y eres eso: la memoria
entre dos cuerpos que se acercan al límite
de los espejos                  y eres eso: la dulce
memoria de los fuegos
                                                                              y el camino (p. 157).


Y cierran con Don’t eat the yellow snow, un diálogo con sabor epistolar donde Floriano y Manuel develan los orígenes y el proceso de conformación de este poemario; las delicias tras bambalinas de sus páginas. Un guiño al lector. Una concesión generosa, que pocas veces encontramos en los libros.  
La relación entre jazz y literatura no es cosa nueva. Ya desde sus orígenesGinsbergKerouac y la generación beat, en Estados Unidos; o Cortázar desde Latinoamérica, por ejemplo; han dejado amplio testimonio de los paralelos entre ambos. Para el autor de Rayuela, no podría encontrarse otro género musical con mayor similitud al surrealismo literario que el jazz: el ritmo y la inspiración como elementos presentes, tanto en la escritura automática como en la improvisación; el impulso total. Y, por su parte, los beats asimilaron al jazz como método literario y forma de vida, llegando a autopercibirse como«jazzistas de la literatura».
Como neófita en los saberes musicales, pero hedonista ávida y voraz escucha de jazz; además de lectora irredenta, no puedo más que celebrar, llena de un gozo indescriptible, que Martins e Iris coincidieran sobre el pentagrama de la vida. Que juntos decidieran publicar este libro que “a partir de la experiencia del jazz, refleja las posibilidades de la amistad, y el amor a la poesía.”
Celebro el Overnight Medley, como celebro una reunión entre amigos entrañables. Me encuentro entre sus páginas, como niña en tienda de dulces, llena de asombro y emoción. Y lo recorro despacio, para dejar que los poemas suenen, estremezcan y lo inunden todo. Sí, la vida es asunto sencillo: jazz y poemas ¿para qué buscar más?





terça-feira, 14 de abril de 2015

FÁTIMA PIRES | Sobras de Deus, um depoimento



Caro amigo, já estava pra lá de encabulada por não enviar as anotações da novela, acho que elas são bem pessoais, e não servem exatamente para nada. Estavam manuscritas e eu sem tempo de colocá-las por aqui, mas como você pediu que fizesse por via eletrônica, assim será. Tomei a liberdade de identificar as partes como capítulos, mas só para facilitar o entendimento.
Primeiro, uma curiosidade que me fez sorrir: quando me falou por e-mail sobre a novela, falou-me que se tratava da relação de um menino de 13 anos com “um rio louco” (quando li vi que era um tio) e aí comecei a pensar numa perspectiva muito mais do Guimarães Rosa do que de qualquer outro (risos)
Vamos às anotações:
Antes, preciso dizer que, ao concluir a leitura do texto, pensei em falar contigo do R. Barthes,

“O texto aborda-se, experimenta-se em relação ao signo. A obra fecha-se sobre um significado. Podemos atribuir este significado a dois modos de significação: ou o pretendemos aparente, e a obra é então objeto de uma ciência da letra, que é a filologia; ou esse significado é reputado secreto, último, é preciso procurá-lo, e a obra releva então de hermenêutica, de uma interpretação (marxista, psicanalista, temática etc.)...” ([p.57], O Rumor da Língua)

Considero a novela como um texto de significados implícitos. Talvez o procedimento mais adequado esteja na “procura” de significados específicos, que “de par em par” alavancam a ideia central do texto. E você não facilitou: “nenhum acesso do que se é chega a explicar o que se alcança...” (rindo). Mas vou por alguns indícios, e talvez consiga sugerir alguma coisa plausível.
Na parte 1 ("Céus remotos") uma família começa a ser apresentada ao leitor e esta composição se estende pelos demais capítulos. Esta apresentação vem, na maior parte das vezes, em forma de considerações dos/sobre os personagens quanto a vida, reflexões extraídas de vivências conflituosas, muitas vezes traumáticas. Uma família mergulhada em dor, é o que passa. Interessante também é que não somente os personagens “falam”, os espaços também, através de analogias, as mais originais. Só para exemplificar: “as portas” [p.12].
A mulher no texto. Talvez esteja aqui uma coisa difícil de dizer. Mas me deu a impressão que há uma depreciação dos papéis femininos, mostram-se sempre sem vida própria, vivem “em função de”. A intenção era essa mesmo? Veja: Tio Eudoro fala que a mulher é a “antífrase da razão”; Alfredo Aquilino reporta-se à mulher como aquela que tem visão, mas que a ação cabe ao homem; a esposa de Anselmo Calamares, Adelaide, tem “amigas emplumadas e ridículas”, é a “confusa Adelaide”. A enfermeira Firmina é “a tonta, tão adorável”. Para completar a visão machista, aristocrática e burguesa da família, Anselmo diz: “ Não procurarei mulheres entre músicos ou qualquer tipo de círculo de vagabundos”. Claro está que não é a tua visão, talvez uma construção que assegura a crise porque passa a família. Não sei…
O piano aparece no primeiro capítulo e acompanha o enredo de toda a trama. A analogia entre o piano e o “dragão sempre dormindo” é ótima! Interessa ver também que há um recurso à ideia de uma existência real e de uma imagem. O que guarda mais o piano? “as ondulações sonoras da vida” [p.46] –  é isto? acho que sim.
O conflito entre Anselmo e Alfredo, este último, uma veia poética usurpada. Um disfarce, uma desculpa, para as longas conversas entre Pequeno Ansioso e o seu Tio, uma maneira inteligente de tecer comentários muitas vezes mordazes sobre o comportamento humano. Alfredo e Anselmo: uma disputa insana. Um resultado insano?
Alfredo acusa Anselmo de “traçar um círculo ao seu redor”. Veja: percebo nas pp. 22 e 28 uma identidade no “diálogo” entre Pequeno Ansioso com o seu Tio Alfredo e depois entre ele e a Mãe Dolores (a empregada espírita). Parece-me que de certa forma o “traçar um círculo” é uma característica bem humana que foi assinalada para um dos personagens, mas serve a quase todos. Esta é uma atitude que muitas vezes assinala um caráter defensivo.
No capítulo 2 ("Uma margem insuportável do silêncio")
Veja estas passagens: “Pequeno Ansioso, ainda sem o saber, mostrava-se aplicado na maior das lições: deixar que tudo seja e desapareça” [p.26]; “Acho que o artista acaba por destruir tudo o que cria” [p. 28]; “A plenitude é feita de uma exímia sequência de abandonos” [p. 30]. São indícios de um sofrimento quanto à perda e de uma terapêutica voltada para a superação que, muitas vezes, consiste na agressão do próprio sentimento.
Uma constante também é a referência a inquietude, ao acaso, a presença da morte, e, claro a Deus: “Leva tudo consigo e nos põe a viver de espanto” [p.28]. Impressionante!!!! Este Deus, que retira, extrai, só deixa sobras, contraria a ideia de um Deus misericordioso. Esta é sem dúvida uma questão pra lá de instigante, atraente. Vejo também este componente em outro livro teu, Alma em Chamas, “É possível que Deus haja morrido de sua fome infinita” [p.169] … Estou certa? Nessa mesma medida: “a busca desenfreada da essencialidade é um distúrbio patológico” [p.18].
A descoberta sexual de Pequeno Ansioso com Dolores, mesclado com a crença da moça, torna toda a experiência traumática e, em certo sentido, trágica, em seu desfecho. A moça é sarcástica aqui: “O que esperavas? A hóstia consagrada?” [p.34]. Um ato humano plausível de redenção? Talvez seja a ideia, uma brincadeira com o leitor.
No capítulo 3 ("Algum silêncio vindo das margens")
Há aqui uma reflexão de Pequeno Ansioso: “Tenho crescido em um mundo enevoado, onde êxtase e tragédia tendem a confundir-se.”  Sem dúvida, essa é uma questão central no texto.
A ausência paterna fica agora melhor registada, e pareceu-me, que o tio Alfredo assume para o menino uma espécie de identidade masculina/paterna, necessária em sua tenra idade.
O Pequeno Ansioso vive em meio à crise familiar; as ausências do pai e da mãe e um conflito interno que acentua-se com as reflexões do tio Alfredo: “Não há mais jeito no ser que sê-lo” [p.37]; “Recusava-se a aceitar que a vontade de ser não passava de um elemento apedrejado pelo acaso” [p.38]; “Minha vontade de ser treinava com o imprevisível e o improvável” [p.38].
O capítulo 4 ("Escuridão numinosa")
As anotações de Pequeno Ansioso das reflexões do tio Alfredo dizem respeito à fragilidade da condição humana: “um ogro errante ou matuto cheio de si”… é também uma passagem belíssima do texto.
Outra referência: as famílias e as suas pistas. Não se apaga nada, somos marcados demais pelo percurso familiar.
O capítulo 5 ("Invisíveis trilhas")
A avó como ponte “que não soube ir de um canto a outro de si mesma...” ou assim “A Avó sempre foi uma ponte entre a realidade o desastre existencial da família”. Ciente do engodo poético havido na família, mas se calava. Pressa na teia familiar.
De novo aparece a figura paterna, só que desta vez com muito mais dor “Não creio que pensasse em mim. Na verdade jamais trocamos uma única palavra” [p.59].
Por fim, mãe – mulher – Deus – livros… panteísmo: analogias de tormento, mas também de identificação.
Pronto? Claro que não. Desculpe-me pelas falhas interpretativas, minha limitação na tua área faz com que saia assim. Mas como você pediu… depois falamos então. Já falei mas vou repetir: adorei ler o texto.
Grande abraço,

Fátima Pires



IOSITO AGUIAR | A propósito de Sobras de Deus


Já a partir do título da novela (novela?) firma-se uma certa arrogância que nos segue por todas as páginas. Na descrição dos sacrifícios, perversões e abandonos, persiste o sentimento de arrogância. Irrita-me, confesso, o viés com que o autor contempla o mundo.
É sumamente perigoso para qualquer poeta ter seu mundo de inocência violado. É que o poeta ao ser contemplado com o epós, ganha uma parte de DEUS mas, também, uma do Diabo para faire pendant. É quando, então, ele revela seu lado mais blasé. Rimbaud ao ter sua inocência violada, transformou-se num contrabandista. Que fosse seres humanos sua mercadoria, pouco lhe importava.
Afinal, não tinham violado o seu universo de inocência? Então, agora que o aguentassem; Höelderlin não suportando a violência e agressividade do mundo à sua volta, escapou pela loucura. Divina loucura! Diria meu velho mestre, Casais Monteiro.
O poeta tem de ser deixado in-nocens para que possa incorporar seu texto à poesia e possa dar a cada palavra seu próprio som e ao texto sua própria sintaxe. O amargor que no intertítulo CÉUS REMOTOS o tio Eudoro Antunes destila: “Sonhei tanto com alguma mínima forma de transcendência”, deixa-nos a imaginar que, possivelmente, a brutal franqueza de mãe Dolores e suas atitudes, tenham causado estragos irreversíveis no universo do Pequeno Ansioso.
A morte do tio Eudoro embaralhou-lhe a vida. Afinal, “um morto nunca morre em si”. Mas, divertir-se enganado pelo bisavô, ainda que este lesse François Villon? É então quando a escatologia rola solta ou seria a coprofilia?
O lugar comum desgastou as conexões vocabulares. Por isso mesmo, o poeta brinca de novela e escande às gargalhadas as mais torpes figuras de expressão: “o que somos é o que existe ou o que desejamos?” O chato mesmo é que “só a infelicidade quer dormir com Deus!”
A percepção consciente de todos os fragmentos, todos os detalhes e açoitado pelo derrame de imagens: “vereda que levava a lugar nenhum”, e o grande aprendizado com o tio: “...não há réstia de cor ou fragmento de luz que não traga em si a chave de toda a paleta”. Todos sabemos as feridas que os fantasmas românticos abrem em nossos peitos - diz Jorge Lúcio de Campos - a nos lembrar de Höelderlin: “Mas onde está o perigo, nasce/ Também o que salva”. Mas o menino tem um tio louco e que é também poeta e que lhe ensina que “as mulheres sabem ver o mundo e os homens, só se forem levados por uma visão”.
O poeta Floriano Martins, tendo sabido separar Logos e Melancholia e marcando seu discurso poético-filosófico no melhor estilo, não permitiu que Saturno e sua melas + kole (bílis negra), maculasse sua caminhada. As estruturas do mundo à sua volta parecem estar em irreversível processo de deterioramento. Mas o Ansioso Menino não se desespera e na sua fragilidade parece querer dizer-nos: “…é preciso que todos olhemos juntos um objetivo maior na vida”.
O autor acaba por descobrir que a Força Centrífuga que dispersou e atomizou a humanidade, precisa ser reestruturada e integrada para que confira sentido e propósito à existência. Ao contrário, o menino exposto a um universo familiar e sem limitações, poderia ser vítima de consequências inimagináveis. Mas não é o que acontece. Do tio louco e poeta e dos poucos livros que lê, aprendeu: “Não importa o que se pode ler mas, sim, o que verdadeiramente transfigura a vida. E nisso, poucos livros ajudarão. Afinal, os livros são atos essenciais de escrituras e não de leituras, a revelar que a busca desenfreada de essencialidade não passa de um distúrbio patológico, uma vez que, toda beleza é perversa”. É assustador que uma criança tenha podido captar e compreender essa afirmação do tio louco e poeta: “Duvido, comigo mesmo, ser preciso ler algum verso. Versos não têm tanta importância, que dizer então de seus autores?”
Parece-nos que o autor tenta passar um preceito unificador, pensando em potencialidade e não em possibilidade, uma vez que, unidade e diversidade são polaridades necessárias e simultâneas da mesma essência. Essa tentativa fragmentária de expressar o inexpressável, parece induzir-nos a uma constatação: “melhor afastar-se ou a capitulação posterior será inexorável”.
Como harmonizar a loucura com a normalidade do cotidiano? A novela parece transcorrer no universo da memória. Mas logo vem-nos a advertência: “Quando tudo é memória, nada mais é memória... o homem é a única catarse possível”.
Apesar de lidar com loucura, poetas e impossibilidades vitais, o estilo rico, mas seco e objetivo do autor, evidencia uma ausência, a ausência da música que, ressaltamos, parece-nos intencional. A maestria na manipulação imagética, leva-o a prescindir da intenção melopaica. Sua dicção nos conduz a uma “prosa de câmara”, acentuando com sua linguagem certo mal-estar lingüístico, presente em Kafka, Artaud e Beckett, como expressão de um mundo em ruínas onde todos os valores humanos foram ou estão sendo aniquilados, pois: “Dar pela falta dos tecidos imutáveis de que é feito cada vida, leva o mesmo e imprevisível tempo que fiá-la”.
Parece-nos que o autor quer ser uma espécie de deus! E é essa arrogância que provoca certo mal-estar: “Os poemas não passam disto: um reflexo de nossa simplicidade diante da vida. Os poetas somos todos franciscanos. (...) nossa tragédia vem de nossa abnegação. Desejamos profundamente que todos os homens sejam felizes”. Aqui acessamos um esquecimento que impede o “vir gloriosus” do autor e seus personagens: música e raiz da raça pois, como disse Kotnensky, “o ser do homem não se mantém e não floresce, se não estiver permanentemente plantado em suas raízes”.
UMA MARGEM IMPERTUBÁVEL DO SILÊNCIO - ALGUM SILÊNCIO VINDO DAS MARGENS - esses intertítulos conduzem através da iniciação sexual do Menino Ansioso. Como é de se prever, Mãe Dolores o conduz na descoberta do sexo. Ríspida, rude e objetiva ela devassa aquele mundo de inocência. Como consequência, dor e linguagem passam a conviver como expressão daquele espírito. Há qualquer coisa de artaudiano na linguagem do Menino Ansioso e sua compreensão do não-domínio da sexualidade de mãe Dolores. E a constatação: “Não há mais jeito no ser que sê-lo”.
As primeiras experiências com a dor parecem conduzi-lo por um caminho entre a complexa variedade de possibilidades e dificuldades, incapazes, no entanto, de bloquear o poder de sua mente e de seu coração. Apesar das ausências paterna e materna: “O pai viajava muito e a mãe vivia às voltas com os cuidados exigidos pelo irmão mais novo, com suas deformações genéticas”.
O Menino Ansioso - sem ignorar nenhuma faceta entre sujeito e objeto - vai moldando sua visão pessoal da vida sem separar espírito e matéria ou intuição e razão. O Pequeno Ansioso consegue romper o rito vil de mãe Dolores e depois vai com ela banhar-se no tanque de peixes do quintal, enquanto o resto da casa chora seus mortos.
ESCURIDÃO NUMINOSA - Não é só a escuridão do quartinho onde mãe Dolores o inicia, que marca sua trajetória. Filosofia, arte e ciência lhes são apresentadas na vivência familiar. Entretanto, nenhum caminho real lhe é apontado. Sua natureza é perpassada em todo o seu contexto pelos elementos vitais de suas vivências. Um novo ordenamento do conhecimento o ajuda a desvendar as analogias, propiciando-lhe a possibilidade de uma postura, mais ampla e objetiva, do sentido da vida.
Seu conhecimento não se limita às impossibilidades do tio poeta-louco, do tio poeta-burocrático, de mãe Dolores ou da sábia avó. Antes de tudo é um poderoso recurso que o vai libertar do medo, abrindo caminho para a reabilitação da sua vontade, para o renascimento da sua fé na vida e de certa confiança no amanhã. Na ruína que é sua família, consegue encontrar padrão e sistema capazes de ajudá-lo a recuperar a própria dignidade.
De alguma forma nosso Pequeno Ansioso vai conseguir deflagrar as mudanças que irão possibilitar certo aprofundamento na compreensão do universal, no entendimento e superação dos preconceitos. Sua intuição será a grande auxiliar na superação dos limites. O conhecimento irá livrá-lo da dependência do autoritarismo, comum das famílias nordestinas.

INVISÍVEIS TRILHAS - UMA ÚLTIMA CHAMA. “O livro não é nada”, e o Pequeno Ansioso é a soma de todas as inquietudes da existência humana. Não há como não retomar Mallarmé e dizer que, na literatura, pelo menos: “A dor existe para acabar em livro”. 



quinta-feira, 5 de março de 2015

JOSÉ CASTELLO | Escutem seu nome

Em um poema de Floriano Martins, "Rastro", esbarro em um verso que me derruba: "- Esta é a única obra. Escutem seu nome". O poema está em O sol e as sombras (Editora Pantemporâneo, 2014), livro trabalhado em parceria com as mãos vigorosas do artista Valdir Rocha. As reproduções das gravuras em metal de Valdir são atordoantes e conferem ainda mais potência à frase que leio.
O livro se abre com uma epígrafe iluminadora do espanhol Francisco de Goya: "Na natureza existem tão poucas cores quanto linhas, só existem o sol e as sombras. Dá-me um pedaço de carvão e eu te darei o quadro mais belo". Tudo, no livro, conflui para um mergulho radical em si. Tudo conflui para o verso de Floriano - ele, também, simples e forte.
Eu o repito, para ter certeza de que ele existe: "- Esta é a única obra. Escutem seu nome". O verso vem em itálico, o que tanto pode indicar a fala de um personagem obscuro, como uma citação. Mas citação de quem? Não importa - o verso se fecha em si mesmo e nos sacode. Nos arrasta. Ele resume, de modo impactante, o segredo da própria criação.
Lembra Goya que na natureza existem poucas coisas realmente valiosas e que, por isso, devemos nos aferrar ao pouco que temos. Precisamos nos agarrar ao que somos - ao próprio nome - ou nada mais se sustenta. Essa parece ser a sina de artistas e escritores: sustentar uma assinatura. As máximas contemporâneas afirmam que "o autor morreu", mas para os artistas verdadeiros isso não passa de uma afirmação leviana.
Precipitada e perigosa, já que pode matar (ainda que metaforicamente) o que um artista é. Pode emudecer uma voz. E de que mais trata um nome senão de uma voz que nos designa? Que nos devolve a nós mesmos? Ter um nome - o que é muito diferente de ter uma identidade renomada -: eis tudo o que um artista quer. Tudo o que um artista (um escritor) persegue. Tudo o que o mantém respirando.
O mesmo poema, "Rastro", abre com outros versos fortes: "O lugar de ser de cada letra,/ a oração convertida em pérola/ que nos decifra em fatias". A palavra pérola - eis o nome, ao que só se chega depois de um longo percurso de volta a si. Voltar a si é muito mais difícil do que avançar, ou transformar-se. Em outras palavras: para um artista, voltar a si é o verdadeiro avanço, é a verdadeira transformação.
Transformar-se em si mesmo _ o que parece simples é o mais difícil. Ainda Floriano: "O mundo é uma fábula,/ até que nos descobrimos/ o personagem de sua saga". O personagem de si mesmo. Ao lado do poema, um imenso rosto, com os olhos arregalados, nos encara. Figura, mais do que nunca, silenciosa. Seus olhos bastam.
A arte de Valdir Rocha dialoga em silêncio com as palavras do poeta. Esse olhar intenso e imenso, voltado mais para dentro do que para fora, é aquele que um artista abre para, enfim, chegar a si mesmo. Refere-se, ainda, ao espanto que todo artista experimenta quando, depois de muita luta, chega ao próprio nome.

O SOL E AS SOMBRAS, de Valdir Rocha e Floriano Martins 
[Resenha de José Castello, O Globo, RJ]





terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

FLORIANO MARTINS | Alguns livros virtuais




Esfinge insurrecta - Poesía en Chile | Floriano Martins y Juan Cameron

Reunião de textos críticos (ensaios, enquete, resenhas, entrevistas) escritos e organizados pelo brasileiro Floriano Martins e o chileno Juan Cameron, este livro conforma um painel rigoroso e amplo da tradição lírica chilena ao longo do século XX. E como bem definem seus autores logo no início, trata-se de uma contribuição à ideia de um mundo compartilhado por todos.

http://www.bookess.com/read/19142-esfinge-insurrecta-poesia-en-chile-floriano-martins-juan-cameron/

Acesso gratuito



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O hábito do abismo - Entrevistas com Floriano Martins | Org. Márcio Simões


Este livro reúne 24 das mais destacadas entrevistas dadas à imprensa em vários países pelo poeta, ensaísta, editor e tradutor brasileiro Floriano Martins, criador da Agulha Revista de Cultura. São diálogos realizados entre 1989 e 2010, organizados e prefaciados pelo poeta e tradutor Márcio Simões.

http://www.bookess.com/read/19007-o-habito-do-abismo-entrevistas-com-floriano-martins-de-marcio-simoes/

Acesso gratuito





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La efigie sospechosa, de Floriano Martins

Poemas y ensayo fotográfico | Prólogo de David Cortés Cabán | Conversa en el epílogo con Alfonso Peña | Modelo en las fotos: Dheyne de Souza | Traducción Marta Spagnuolo | Diseño gráfico y de cubierta: Ernesto Bolaños. | Imagen de cubierta: Floriano Martins | ISBN 978-9968-929-32-5 | Ediciones Andrómeda San José, Costa Rica, 2010. | Edición virtual a cargo de ARC Edições © 2013 | Fortaleza, Ceará, Brasil | Circulación, Bookess.

http://www.bookess.com/read/19022-la-efigie-sospechosa-de-floriano-martins/

Acesso gratuito





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