“Eu tenho vivido sob o salvo conduto do acaso”. É a frase que fecha a
entrevista de Floriano Martins na entrevista a Márcio Simões, e que está nas
últimas páginas do livro “A vida inesperada” (Arc Edições), lançado recentemente.
Reúne a obra poética completa de Floriano, abarcando sua produção em verso de
1991 a 2015.
O livro é um tijolo, com suas quase 600 páginas.
“São poemas escritos durante os últimos 24 anos, 20% publicados no Brasil, 40%
em países de língua espanhola e o restante inédito. Mas foi tudo remontado,
reordenado”, explicou-me Floriano, em seu último mail, respondendo indagações
finais que eu precisava para escrever esta matéria.
Ensaísta, tradutor, poeta, editor de veículos
literários e aventureiro na música e nas artes plásticas, “seo” Flô, como gosto
de chamá-lo, é um militante feroz das letras. E o que temos em “A vida
inesperada” é algo valioso, pois dá vazão à sua obra poética completa, onde
predomina a inspiração e a estética surrealista.
“Vejo o convulsivo na poesia de Floriano Martins
dentro daquilo que no Surrealismo se define como belo, vejo o encontro de
elementos, sensações e temas, no ponto em que deixam de ser opostos”. É o que
está na contracapa da obra, assinado por Susana Wald.
É curioso observarmos a frase inicial deste texto,
para contrapô-la, com parte dos escritos de Floriano, como suas entrevistas e
ensaios que jogam luz à produção literária de inúmeros poetas e escritores,
notadamente, aqueles com algum vínculo ou aproximação ao surrealismo e/ou
outras vanguardas das letras universais.
Entender e saber expressar-se em torno desses
escritos que não são muito acessíveis ao leitor mediano é uma tarefa
importante. E usar da razão e do seu conhecimento para esclarecer as coisas, é
o que Floriano também tem feito, além da sua produção poética. É que sendo o Surrealismo um movimento artístico e
literário, concebido com a intenção de enfatizar a força do inconsciente na
atividade criativa, que estaria sucumbindo pelo racionalismo, assim sendo, ligada
ao “acaso”; isso jamais impediu que o autor da poesia – ou prosa poética – de
“A vida inesperada”, se permitisse a destrinchar os motivos e inspirações
brotados da inconsciência, nas letras de inúmeros autores ligados, de alguma
forma, ao Surrealismo.
Daí que temos dois Florianos distintos. Um que é
generoso e repassa sua informação e seus conhecimentos sobre poesia, buscando a
clareza como objetivo; e outro, o criador, que escreve sua poesia libertária
segundo dita a voz que vem de dentro dele próprio, e sem fazer concessões ao
leitor, porque o compromisso maior do artista deve ser sempre com ele mesmo.
“A poesia de Floriano Martins é o lugar quase
lascivo de uma ambiguidade. Desfrutar dessa ambiguidade é um privilégio que, em
definitivo, não é para todo mundo”, escreveu em “A vida inesperada”, Renata
Sodré Costa Leite.
O Tyrannus recomenda com gosto a obra que chega.
Especialmente para os iniciados na arte da escrita, ou para aqueles que não
temem o novo, o diferente.
Os interessados no livro podem descobrir como
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[Originalmente publicado em http://www.tyrannusmelancholicus.com.br/noticias/5998/quase-600-paginas-de-proesias]